Quem viaja para a charmosa ilha de Cuba, no Caribe, vai encontrar, além das praias com suas águas límpidas e azuis, uma cultura e costumes diferenciados e um artigo de luxo conhecido mundialmente: o charuto cubano. O ‘puro’, como é chamado. Esse reconhecimento vem das folhas de tabaco cultivadas no país, que são as melhores do planeta. A localização, no meio do Caribe, o clima subtropical, com sol quase o ano todo, que proporciona muitas horas de iluminação, com temperaturas altas e alta umidade, seriam importantes fatores para a qualidade do fumo.
O coração da plantação de tabaco do melhor charuto do mundo está em Pinar del Río, onde está localizada a fábrica de tabacos Francisco Donatién, que pode ser visitada e onde é produzida a marca Vegueros. Lá é a única região que produz os verdadeiros charutos chamados de “havanos”. Qualquer outro charuto produzido em outra região não leva essa qualificação.
Essa tradição que conquistou o mundo foi herança dos ameríndios da ilha, desde a época de seu descobrimento, em 1492. Segundo a lenda, quando Cristovão Colombo aportou na Baía de Gibara, dois homens de sua tripulação, Rodrigo de Jerez e Luís de Torres, encontraram nativos tainos que seguravam pedaços de folhas fumegantes.
Segundo relatos dos marinheiros, os índios “tinham tochas nas mãos e ervas das quais inalavam fumaça, com ervas secas dentro de uma folha seca. Elas eram chupadas e além de entorpecer a pele, era quase intoxicante, e que dessa forma eles jamais sentiam fadiga”. Provavelmente, um desses tripulantes teria sido o primeiro europeu a experimentar um desses rudimentares charutos, que décadas depois seriam levados para o Velho Mundo.
Entre as melhores marcas de charutos produzidas em Cuba estão o Cohiba, Montecristo e Romeo y Julieta. O Cohiba, o preferido de Fidel Castro, começou a ser comercializado em 1982 e era presenteado por Fidel aos chefes de Estado. O Romeo y Julieta foi criado em 1875, por Inocencio Alvares e Mannin Garcia, que ganharam vários prêmios, inclusive internacionais. Era o preferido do premier britânico Winston Churchill.
Já o Montecristo, o favorito de Che Guevara, teve origem de seu nome no livro “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas. Assim como o Montecristo, o nome do charuto Romeo y Julieta foi originado a partir das histórias que encantavam os trabalhadores da fábrica, que ouviam a leitura dos livros enquanto enrolavam os charutos.
Outros charutos de Cuba igualmente reconhecidos mundialmente são o Partagás, que teve seu nome originado de don Jaime Partagás, em 1845, e Bolívar, uma homenagem dada a Simon Bolívar, em 1927, pelo empresário espanhol José F. Rocha, que morava em Havana.
E mesmo quem não é um apreciador deste artigo de luxo, a visita a uma fábrica de charutos, onde é possível comprar um “puro” diretamente na origem, é imprescindível. Em Havana, em duas fábricas é possível fazer um tour guiado, a Real Fábrica de Tabacos Partagás e a Real Fábrica de Tabacos H Upmann. Durante a visita você vai aprender sobre todos os estágios da produção, da seleção das folhas até o empacotamento do produto.
Todas as marcas de “puros” da ilha são da empresa Habanos S.A., uma multinacional que produz e distribui os charutos em Cuba e no mundo. Atualmente, 50% da empresa é da britânica imperial Tobacco, a quarta maior empresa de cigarro do mundo.
Apesar de estar na terra do tabaco, é preciso tomar cuidado com falsificações e ilegalidades. Por conta do embargo americano à ilha, os charutos cubanos passaram a ser objeto de crime na ilha. Os trabalhadores das fábricas de charutos recebem diariamente uma cota de charutos, que acabam sendo desviados por alguns trabalhadores para o mercado ilegal, que também comercializa charutos falsificados. Por isso, é recomendado não comprar os charutos nas ruas. Existem pontos de venda espalhados pelo país. Um desses lugares é a Casa del Tabaco, no bairro de Miramar, em Havana, e em outras cidades do país.
Rum
Assim como os famosos charutos, o rum cubano é marca registrada da ilha e é igualmente reconhecido como um dos melhores do mundo. A qualidade dessa bebida forte, consumida por todos os cubanos, é devido ao clima subtropical da ilha, que proporciona longas horas de sol e muita chuva, ótimo para a produção de cana de açúcar.
A história da famosa bebida começou em 1850, quando Dom Fernando de Artiola desenvolveu a prática de destilação em alambiques. A primeira bebida extraída desse processo era a tafia, muito rudimentar e suportada apenas pelos piratas, marinheiros e escravos da época.
Atualmente, a marca mais famosa de rum é a Havana Club, criada no país em 1934, em Cardenas, e hoje uma das bebidas mais vendidas no mundo. A destilaria foi fundada em 1878 pela família José Arechabala e nacionalizada após a Revolução cubana, passando para as mãos do governo em 1959.
Por volta de 1970, Cuba registrou a marca, mas a partir de 1990, a família Bacardi também começou a produzir a bebida com o mesmo nome, após comprar os direitos da família Arechabala, dando início a uma briga judicial para a detenção da marca, nos EUA, Espanha e Organização Mundial do Comércio. A última decisão jurídica aconteceu em janeiro de 2016, quando o governo dos EUA concedeu a marca registrada para o governo cubano.
Brigas jurídicas à parte, Havana Club é a quinta maior marca de rum do mundo, com quase cinco milhões de caixas vendidas anualmente em mais de 120 países.
Além do Havana Club, atualmente produzido pela destilaria Pernod Ricard, outras destilarias de rum menos conhecidas, mas com produtos de ótimo sabor e qualidade, são as Ron Mulata, Santiago de Cuba, Sancti Spiritus e Puerto Príncipe, onde é possível fazer uma visita guiada. Puerto Príncipe está localizada no centro da cidade de Camagüey.
E como não poderia deixar de ser, por conta dessa bebida deliciosa, foram criadas várias receitas com esse ingrediente, que pode ser o rum branco, o mais básico e o mais usado para misturar coquetéis, como o mojito, o daiquiri e a cuba libre, ou o rum escuro, mais apreciado puro ou com uma pedra de gelo.
E falando em coquetéis, não se pode deixar de citar o famoso escritor Ernest Hemingway, um grande apreciador da bebida e suas variações. Com o romancista, o bar El Floridita, com seu delicioso daiquiri, e o La Bodeguita del Medio, com o saboroso mojito, entraram para história e hoje são lugares de visita obrigatórios.
Havana tem a reputação de ser a meca dos coquetéis. Além do daiquiri e do mojito, também foram criados por lá a Cuba Libre, Mary Pickford, Mulata, Saoco, Hemingway Special e El Presidente. A invenção de novas bebidas se tornou tão séria que, em 1996, foi criada a 1° Cocktail Havana Club International Grand Prix, atraindo mixologistas do mundo todo. A competição é realizada a cada dois anos.